quinta-feira, 5 de julho de 2012

Sem voz



Quando você tenta… aí, depois, tenta novamente… e não chega à lugar algum.

Oito e trinta e oito
Treze graus
Um positivo
Silêncio

Já falei
Mas vou repetir
Ninguém escuta
Ninguém está aqui

E passeio em minha companhia
Boa companhia
Vinho, cigarro
E solidão

Minhas palavras
Vão
Ninguém,
Ninguém vem na contra-mão

Ouço minha voz
Recebo minha idéia
Lanço uma pergunta
E a resposta… nem sim nem não

Se eu sempre falei
Sempre perguntei
Mas estava só
Resposta era algo inesperado

Mas agora… agora
Há um ouvinte
Acabou de chegar
Anunciou sua chegada

Ele não me responde
Não quer falar
Não pode falar
Mas está aqui

Bem confortado
Aquecido
Sinto sua presença
Silenciosa

Tudo muda?!
O mundo muda?!
Ele, e eu,
Somos impotentes

Eu falo, tento
Ele, se faz presente
Cresce, divulssiona
E não somos ouvidos
Ou, sentidos…

Eu posso gritar
Ele pode doer
Mas é tão angustiante
Porquê nada muda

Eu vou indo
Levarei tudo sempre
Temo por ele
Que menos pode fazer

Que ironia
Fazer e não escolher
Existir e não nascer
Morrer e não viver

Uma cobertura
De indecifrável
De mistério
De inalcansável

E nos encontramos
Eu de fora
Ele de dentro
Mas impotentes, do mesmo jeito

Não vou conseguir
Nunca
Me entregar a indiferença
Ao insucesso

Ele, sei, sim eu sei
Também não o faria
Lutaria,
Se, possível fosse

Mas ficamos assim
Eu, falo, sem ser ouvido
Ele, cresce, sem ser sentido
E à nossa volta,
Segue-se a pintura
Perfeita
Intocada
Que não ouve nada
Não sente nada

(Elson Marques Jr.)