Me perdendo em devaneios sem destino. Passeando sem saber por onde, me deparei com essa obra de Vinícius. Não que eu não conhecesse, mas, às vezes, quando se dá uma segunda ou terceira olhada, estamos na verdade olhando pela primeira vez. E, foi só por lembrar, sem pretensão alguma de comparar ou coisa do tipo, que lembrei de uns versos que fiz há tempos atrás e que inclusive já havia postado aqui antes...
Poema de aniversário
Porque fizeste anos, Bem-Amada, e a asa do tempo roçou teus cabelos negros, e teus grandes olhos calmos miraram por um momento o inescrutável Norte...
Eu quisera dar-te, ademais dos beijos e das rosas, tudo o que nunca foi dado por um homem à sua Amada, eu que tão pouco te posso ofertar. Quisera dar-te, por exemplo, o instante em que nasci, marcado pela fatalidade de tua vinda. Verias, então, em mim, na transparência do meu peito, a sombra de tua forma anterior a ti mesma.
Quisera dar-te também o mar onde nadei menino, o tranqüilo mar de ilha em que perdia e em que mergulhava, e de onde trazia a forma elementar de tudo o que existe no espaço acima - estrelas mortas, meteoritos submersos, o plancto das galáxias, a placenta do Infinito.
E mais, quisera dar-te as minhas loucas carreiras à toa, por certo em premonitória busca de teus braços, e a vontade de grimpar tudo de alto, e transpor tudo de proibido, e os elásticos saltos dançarinos para alcançar folhas, aves, estrelas - e a ti mesma, luminosa Lucina, e derramar claridade em mim menino.
Ah, pudesse eu dar-te o meu primeiro medo e a minha primeira coragem; o meu primeiro medo à treva e a minha primeira coragem de enfrentá-la, e o primeiro arrepio sentido ao ser tocado de leve pela mão invisível da Morte.
E o que não daria eu para ofertar-te o instante em que, jazente e sozinho no mundo, enquanto soava em prece o cantochão da noite, vi tua forma emergir do meu flanco, e se esforçar, imensa ondina arquejante, para se desprender de mim; e eu te pari gritando, em meio a temporais desencadeados, roto e imundo do pó da terra.
Gostaria de dar-te, Namorada, aquela madrugada em que, pela primeira vez, as brancas moléculas do papel diante de mim dilataram-se ante o mistério da poesia subitamente incorporada; e dá-Ia com tudo o que nela havia de silencioso e inefável - o pasmo das estrelas, o mudo assombro das casas, o murmúrio místico das árvores a se tocarem sob a Lua.
E também o instante anterior à tua vinda, quando, esperando-te chegar, relembrei-te adolescente naquela mesma cidade em que te reencontrava anos depois; e a certeza que tive, ao te olhar, da fatalidade insigne do nosso encontro, e de que eu estava, de um só golpe, perdido e salvo.
Quisera dar-te, sobretudo, Amada minha, o instante da minha morte; e que ele fosse também o instante da tua morte, de modo que nós, por tanto tempo em vida separados, vivêssemos em nosso decesso uma só eternidade; e que nossos corpos fossem embalsamados e sepultados juntos e acima da terra; e que todos aqueles que ainda se vão amar pudessem ir mirar-nos em nosso último leito; e que sobre nossa lápide comum jazesse a estátua de um homem parindo uma mulher do seu flanco; e que nela houvesse apenas, como epitáfio, estes versos finais de uma cançâo que te dediquei:
... dorme, que assim
dormirás um dia
na minha poesia
de um sono sem fim...
(Vinícius de Moraes)
Declaração de Aniversário
Felicito teu dia minha amiga
Nem precisa que eu lhe diga
Uma outra primavera passou
Outro ano chegou
a
Foram muitas aventuras
Algumas desventuras
Sorrisos e risos soltos
Lágrimas de um choro ou outro
a
Levantou para dar mais um passo
Se preparou para manter o compasso
Apesar dos tombos e desencantos
Não precisa correr tanto
a
Só não deixa de seguir
Tenha cuidado ao ouvir
Saiba a hora certa de sorrir
a//
Não há pessoa mais certa
Mais experiente
Que só lhe queira bem
Do que seu inconsciente
a
Por falar em bem,
Queira bem quem lhe trata bem
Mas sem nunca dela tirar
A esperança de felicidade
a
Não engane ou tente mentir
Pois começa-se com o próximo
Para depois, sem sentir
Iludir a si próprio
a
Mais um ano que chega
Tantos outros devem vir
Conserve a voz meiga
E um belo sorriso a luzir
a
Acredite em Deus
Pois dos seus ele cuidará
E muito ajudará
Quando de um amigo você precisar
a
E, quando eu não mais estiver aqui
Quando com a morte eu partir
Irá no ombro dele chorar
E nova felicidade encontrar
a
Mas a vida faz disso
Te dá muitos anos
Põe o amor à porta
Sem nada em troca
a
Pois tudo que acontece
Acontece à todos
E os anos vêm Sempre
a
E não te preocupas com a idade
Mas com o que fez no último ano
Não te preocupas com a pele
Mas com os carinhos que fizeste
a
Ame seus filhos mais que tudo
Única possibilidade de amor sem ciúmes
Com moderação escuta teus pais
Pois logo não poderá mais
a
A vida vai ser prazerosa
Não pelas noites em colchões
Mas por dias de sol ou chuva
Com alguém que nunca largue sua mão
a
Não distribua silêncio
Guarde ele para si em oração
Não me negue um beijo
Se for esse o desejo sincero do seu coração
a
Mas sei que sempre levará
O amor mais lindo que há
A mais bela amizade que se possa querer
a
Queria tanto tanto poder
Em 100 anos te dizer
Que prazer com você envelhecer
Agradecer
a
Mas ainda faltam 99 primaveras
E, de forma sincera
Direta
Digo
Vontade maior do que a desse poeta
De felicitar sua amada
No seu aniversário
Com um abraço amoroso
Não há
E, à contra-gosto
Vou me contentar
Em bom som falar
Por ti carrego amor
Feliz aniversário.
a
(Elson Marques Jr.)