terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Você acha?




          Com uma visão machista não-convencional refleti bastante sobre um filme que vi hoje. Percebi que as grandes estórias de amor e superação sempre partem do homem. Não consegui lembrar de uma grande jornada amorosa desbravada por uma mulher em busca de seu amor. Esse papel parece mesmo ser nosso. Vejo a mulher como tendo sido feita para ser amada, desejada e buscada. E o papel de tentar fazer o amor acontecer é do homem. Não que o dito sexo frágil seja indiferente à paixão, longe disso. Mas é um amor diferente. De espera. De paciência perseverante. A louca obstinação de alcançar e conquistar é mesmo do detentor do falo. É sempre a princesa que espera no castelo a chegada de seu salvador. É o gladiador que derrama sangue, enfrenta exércitos e ganha o dinheiro do mundo todo para tomar de volta sua costela de direito. 






          Ou pelo menos deve ser assim que os grandes escritores pensam, pois os mais famosos dramas seguem essa fórmula. E posto isso, torna claro que o poder de realização ou não do final feliz, buscado pelo mocinho, está na mão da moça cobiçada. Colocamos o destino do universo no colo delas. Desvendamos os mistérios da vida, enfrentamos dragões cuspidores de fogo, abrimos o peito para enfrentar os tiros e nos arrastamos quase mortos até a sombra da torre alta gritando o nome dela. Mas é ela quem decide se aparece ou não na janela. Sempre foi assim. E continuamos a ter mais do mesmo. E fico intrigado. Eu entro com o risco da morte, a espada e o sangue, viajo por continentes durante o tempo de uma vida, executo monstros e bruxas, me torno o maior herói de todos os contos dos maiores heróis que já existiram e ela entra com um "sim". Não acho justo.

(Elson Marques Jr.)

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Foi só por lembrar...

Me perdendo em devaneios sem destino. Passeando sem saber por onde, me deparei com essa obra de Vinícius. Não que eu não conhecesse, mas, às vezes, quando se dá uma segunda ou terceira olhada, estamos na verdade olhando pela primeira vez. E, foi só por lembrar, sem pretensão alguma de comparar ou coisa do tipo, que lembrei de uns versos que fiz há tempos atrás e que inclusive já havia postado aqui antes...



Poema de aniversário

Porque fizeste anos, Bem-Amada, e a asa do tempo roçou teus cabelos negros, e teus grandes olhos calmos miraram por um momento o inescrutável Norte...
      Eu quisera dar-te, ademais dos beijos e das rosas, tudo o que nunca foi dado por um homem à sua Amada, eu que tão pouco te posso ofertar. Quisera dar-te, por exemplo, o instante em que nasci, marcado pela fatalidade de tua vinda. Verias, então, em mim, na transparência do meu peito, a sombra de tua forma anterior a ti mesma.
      Quisera dar-te também o mar onde nadei menino, o tranqüilo mar de ilha em que perdia e em que mergulhava, e de onde trazia a forma elementar de tudo o que existe no espaço acima - estrelas mortas, meteoritos submersos, o plancto das galáxias, a placenta do Infinito.
E mais, quisera dar-te as minhas loucas carreiras à toa, por certo em premonitória busca de teus braços, e a vontade de grimpar tudo de alto, e transpor tudo de proibido, e os elásticos saltos dançarinos para alcançar folhas, aves, estrelas - e a ti mesma, luminosa Lucina, e derramar claridade em mim menino.
      Ah, pudesse eu dar-te o meu primeiro medo e a minha primeira coragem; o meu primeiro medo à treva e a minha primeira coragem de enfrentá-la, e o primeiro arrepio sentido ao ser tocado de leve pela mão invisível da Morte.
      E o que não daria eu para ofertar-te o instante em que, jazente e sozinho no mundo, enquanto soava em prece o cantochão da noite, vi tua forma emergir do meu flanco, e se esforçar, imensa ondina arquejante, para se desprender de mim; e eu te pari gritando, em meio a temporais desencadeados, roto e imundo do pó da terra.
      Gostaria de dar-te, Namorada, aquela madrugada em que, pela primeira vez, as brancas moléculas do papel diante de mim dilataram-se ante o mistério da poesia subitamente incorporada; e dá-Ia com tudo o que nela havia de silencioso e inefável - o pasmo das estrelas, o mudo assombro das casas, o murmúrio místico das árvores a se tocarem sob a Lua.
      E também o instante anterior à tua vinda, quando, esperando-te chegar, relembrei-te adolescente naquela mesma cidade em que te reencontrava anos depois; e a certeza que tive, ao te olhar, da fatalidade insigne do nosso encontro, e de que eu estava, de um só golpe, perdido e salvo.
      Quisera dar-te, sobretudo, Amada minha, o instante da minha morte; e que ele fosse também o instante da tua morte, de modo que nós, por tanto tempo em vida separados, vivêssemos em nosso decesso uma só eternidade; e que nossos corpos fossem embalsamados e sepultados juntos e acima da terra; e que todos aqueles que ainda se vão amar pudessem ir mirar-nos em nosso último leito; e que sobre nossa lápide comum jazesse a estátua de um homem parindo uma mulher do seu flanco; e que nela houvesse apenas, como epitáfio, estes versos finais de uma cançâo que te dediquei:

                  ... dorme, que assim
                  dormirás um dia
                  na minha poesia
                  de um sono sem fim...
(Vinícius de Moraes)

Declaração de Aniversário



Felicito teu dia minha amiga 
Nem precisa que eu lhe diga 
Uma outra primavera passou 
Outro ano chegou
a 
Foram muitas aventuras 
Algumas desventuras 
Sorrisos e risos soltos 
Lágrimas de um choro ou outro

a

Levantou para dar mais um passo 
Se preparou para manter o compasso 
Apesar dos tombos e desencantos 
Não precisa correr tanto 
a
Só não deixa de seguir 
Tenha cuidado ao ouvir 
Saiba a hora certa de sorrir
a//
Não há pessoa mais certa 
Mais experiente 
Que só lhe queira bem 
Do que seu inconsciente
a
Por falar em bem, 
Queira bem quem lhe trata bem 
Mas sem nunca dela tirar 
A esperança de felicidade
a
Não engane ou tente mentir 
Pois começa-se com o próximo  
Para depois, sem sentir 
Iludir a si próprio
a
Mais um ano que chega 
Tantos outros devem vir 
Conserve a voz meiga 
E um belo sorriso a luzir
a
Acredite em Deus 
Pois dos seus ele cuidará 
E muito ajudará 
Quando de um amigo você precisar
a
E, quando eu não mais estiver aqui 
Quando com a morte eu partir 
Irá no ombro dele chorar 
E nova felicidade encontrar
a
Mas a vida faz disso 
Te dá muitos anos 
Põe o amor à porta 
Sem nada em troca
a
Pois tudo que acontece 
Acontece à todos 
E os anos vêm Sempre
a
E não te preocupas com a idade 
Mas com o que fez no último ano 
Não te preocupas com a pele 
Mas com os carinhos que fizeste
a
Ame seus filhos mais que tudo 
Única possibilidade de amor sem ciúmes 
Com moderação escuta teus pais 
Pois logo não poderá mais
a
A vida vai ser prazerosa 
Não pelas noites em colchões 
Mas por dias de sol ou chuva 
Com alguém que nunca largue sua mão
a
Não distribua silêncio  
Guarde ele para si em oração  
Não me negue um beijo 
Se for esse o desejo sincero do seu coração 
a
Mas sei que sempre levará 
O amor mais lindo que há 
A mais bela amizade que se possa querer
a
Queria tanto tanto poder 
Em 100 anos te dizer  
Que prazer com você envelhecer 
Agradecer
a
Mas ainda faltam 99 primaveras 
E, de forma sincera 
Direta 
Digo 
Vontade maior do que a desse poeta 
De felicitar sua amada 
No seu aniversário  
Com um abraço amoroso 
Não há 
E, à contra-gosto 
Vou me contentar 
Em bom som falar 
Por ti carrego amor 
Feliz aniversário.
a
(Elson Marques Jr.)

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Música!



Música para admirar e sentir!

Abaixo o vídeoclip original, fantástico.


domingo, 6 de janeiro de 2013

Quase nada



a
Ela sorriu 
Eu vi de longe 
Alcancei-a 
Com meu desejo 
a



Ela não viu 
Foi isso 
Só pode 
Não me olhou 
a



Eu perguntei 
Ela disse sim 
Como assim? 
Somente sim
 a
Então é minha? 
Escutei "não sei" 
Ou deduzi... 
Mas não era "sim"?
 a
Não é mais... 
Não que tenha dito 
Mas não disse nada 
Então é não 
a



Ou quase nada... 
a



Pergunto novamente 
O que tens em mente?
Me responde... Nada 
Ou quase nada... 
a



Um silêncio 
Ausência dela 
Nada dela 
O que fazer? 
a



Não gosto do vazio 
Do não ter resposta 
Do não tê-la agora 
Prefiro o sim 
a



Sim, com resposta 
Com ela agora 
Ou amanhã 
Ou quando for 
a
Mas quero mesmo 
Essa pequena 
A qual advinhei 
Que desejei 
Que esperei 
Embaixo da figueira 
No corredor  
Na sala cheia 
Mas que sumiu 
a



Me diga sim 
Responda-me
Me deixe ver 
De pertinho 
Seu sorriso 
Seu jeitinho 
E esqueça o não 
Me dê a mão 
Sem marra 
Sem amarras 
a



(Elson Marques Jr.)

João e Maria



Era uma vez

João e Maria
Ele estava ali
Ela estava lá

Ele queria conversar

Ela queria escutar
Ele sentiu que sim
Ela pensou talvez

João queria lhe falar

Ela tentou lhe ouvir
"Eu esperei por você"
Mas ele só pensou
Não falou...

João queria falar

Explicar... 
Que era ela
Aquela, que ele imaginava
Que quando viu
Quis...
Simplesmente quis...

João, talvez, antecipou-se

Atropelou... 
Falou demais
Tentou demais...
Esperou demais... ?!

João não sabe...

Talvez nunca saberá...
Maria sim... 
Tem a resposta...
Tem a solução
Se sim ou não

João esperou 

O quanto pôde
O quanto resistiu
Ela mexeu com ele
De dia e de noite

Maria não sabe

O que João pensou
O que João não falou

Ele sentiu o cheiro dela

Ele pegou na mão dela
Apertou seus dedos
Esperou sua reação 

Maria não entendeu

Que ela não era
Uma Maria apenas
Que ela não era
Uma moça apenas

Ah, se Maria soubesse

Se Maria enxergasse
Que aquele sim
Era o João
O João dela
Não apenas um João
O seu João
Aquele da Maria...
E, se ambos se entendessem,
Aí sim, seriam João e Maria
João que há muito esperava
Maria que não sabia
O que era o amor
E João quem mostraria 
E Maria,
Que à tudo de João 
Sentido daria

Mas João não falou...
Maria não escutou...


(Elson Marques Jr.)