sábado, 23 de fevereiro de 2013

E o carnaval...


"Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval." (Vinícius de Moraes)



Passou o carnaval. A fantasia que desfilou foi dobrada e guardada. Não para ser usada no próximo. Mas porque não se deve jogar fora. As lantejoulas usadas, tiveram sua utilidade. O confete, que foi lançado, que decorou o ar, esse sim não existe mais. Quarta-feira de cinzas não poderia ter um nome mais apropriado. O fogo foi apagado. Mas a cinza vigia o palhaço tirando o nariz e lavando o rosto maquiado. 
E no mundo pós-folia ouve-se "de volta a realidade". Mas a embriaguez não precisa de feriado nacional para ser praticada. Um sonho não precisa de uma multidão para ser sonhado. Precisa do sonhador e do sonho a ser alcançado. Ilusões podem se renovar sem marchinha ou banda de rua. Assim como o amor pode bater na sua porta travestido de mensagem no auge da ressaca de um carnaval. 
Tenha sido ele alto, curtido de uma poltrona, recheado de amnésias ou assombrado por foliões adoradores do mistério de viver de conquistas. O dito mundo real não deixa de existir na festa da carne. Nem reaparece nos tempos de luta. Há quem viva em festa. Há quem festeje em vida, dia após dia. E o amor pode bater na sua porta travestido de mensagem no meio de uma festa de formatura, ou em um domingo de trabalho. E nada te impede de escolher uma nova fantasia. Nada te impede de vesti-la na segunda, depois de um domingo de trabalho. 
Façamos carnavais fora de época de tempos em tempos. Em época de luta. Em época de cura. A qualquer tempo, de qualquer jeito. Seu par de festa pode surgir hoje. O arlequim não morre na quarta. A colombina pode estar a espera em qualquer lugar. O pierrô e a pierrete podem se entregar à devaneios e noites de amor sob a lua no meio do outono. E o amor, sim, o amor, pode bater na sua porta travestido de mensagem no auge da ressaca de carnaval.


Pierrot, 1918 (Pablo Picasso)

Passou mais um carnaval
A fantasia que desfilou foi guardada
Não para ser novamente usada
Para vez ou outra ser lembrada
a
As lantejoulas foram vistas e usadas
O confete lançado decorou o ar
Mas esse sim, já não existe mais
Quarta de cinzas, nome apropriado
a
Depois do fogo ser apagado
A cinza vigia o palhaço se desfazer
tirar o nariz, lavar o rosto maquiado
Ouve-se "de volta a realidade"
a
Embriaguez não precisa de feriado
Um sonho não precisa de multidão

Só do sonhador e do sonho desejado
Um desejo sincero de bom coração
a
Ilusões são renovadas, recriadas
Sem marchinha ou banda de rua
Assim como o amor pode aparecer
No auge da ressaca de um carnaval
a
Tenha sido ele alto, visto da poltrona
Recheado de vazio e amnésias
Ou assombrado por foliões
Adoradores do mistério da conquista
a
O real não deixa de existir na festa
Nem reaparece nos tempos de luta

Há quem viva sempre em festa
Há quem festeje em vida sempre
a
E o amor pode bater na sua porta
Travestido de mensagem
No meio de uma festa de formatura
Ou em um domingo de trabalho
a
E podes escolher nova fantasia
Com novos adereços e sonhos
Podes vesti-la na segunda
Depois de um domingo de trabalho
a
Façamos carnavais fora de época
Em época de luta
Em época de cura
A qualquer tempo, de qualquer jeito
a
Seu par de festa pode surgir hoje
Mesmo sem noite de baile
O arlequim não morre na quarta
A colombina pode estar a espera
a
O pierrô e a pierrete se entregam
À devaneios e noites de amor
Sob a lua no meio do outono
Ou frente as flores de primavera
a
E o amor, sim, o amor, pode bater na sua porta
Travestido de mensagem
No auge da ressaca de carnaval
a
a
(Elson Marques Jr.)

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Alguma coisa




Eu pensei que fosse te ver
Ontem, no restaurante, ou no bar 
Pensei que fosse te encontrar  
No hospital, ou parado no sinal
 


Mês passado te procurei 
Fazendo barulho, encenações 
Na última semana esperei 
Quieto, em silêncio, silenciado...
 


Tentei achá-la no meio do porre 
Bêbado, em meio à fumaça  
E quando acordei busquei-a 
De ressaca, exausto, sem rumo
 


Vou atrás de ti no trabalho 
No mercado, na feira, perdido 
Na praça faço vigília, atento 
Não tomo tento, e ainda acredito
 


Quase consigo te ver em uma 
Ou outra canção, mas nunca vejo 
Nunca vejo... Teu rosto não me vem  
És um retrato antigo, borrado
 


Por que não aparece de vez 
Me traz o teu cheiro 
Mostra tua cor, teus cabelos 
Mostra tuas curvas, teu beijo
 


Me pergunto se te conheço  
Se és real, se tu existes 
Se é só palpite, sonho infantil 
Será que sonha, que espera?
 


Há alguma coisa estúpida  
Nisso de esperar, preparar tudo 
Perseverar, paciente, perseverar 
Imaginar, como seria, como será
 


Sair querendo te encontrar 
Correr para te alcançar 
Dormir para sonhar 
Sonhar para viver 
Viver para te beijar 
E acreditar que  
Quando chegar 
Quando aparecer 
Vou te reconhecer 
E deixar essa estupidez  
De procurar, procurar e procurar







(Elson Marques Jr.)