Imaginarium
Devaneios entre Versos e Pensamentos Livres
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Bem me quer
Eu vi uma linda flor azul de pétalas macias
Eu senti o perfume natural mais apaixonante
E me perdi ao levá-la para mim. Já na poda me furei
E ali mesmo, pensei: condenei-a à morte!
Ela agora é minha e já agora me sangra
E então o inevitável. Quanto mais a tocar e segurar mais próxima estará do fim
Sei, sim eu sei! Sem mais tempo para ilusão
Vai findar por secar e murchar na palma da minha mão
(Elson Marques Jr.)
segunda-feira, 27 de maio de 2013
Passagem
Marion Cotillard |
Eu tentei, juro
Cheguei perto
Pude sentir
Um pouco
a
Mas sabe, não é fácil
Trago um mundo
Marcas e decepções
Uma vida vivida
a
Às vezes não levantamos
Não aprendemos a lição
Repetimos erros
E desistimos
a
Mas os dias sempre voltam
As manhãs podem ser de sol
Esquecemos e seguimos
E tudo se renova
a
Levarei um pouco de você
E vai levar um pouco de mim
Saiba o que guardar
Isso vai ajudar
a
Nem sempre acertamos
Tire o peso e releve
Não leve tão à sério
Sorria, sorria mais
a
Não atribua à maldade
Ao azar ou à impotência
Curta a lembrança
Use a experiência
a
Amor é escolha
Paixão é projeção
Decepção é desencontro
E a solidão é passageira
a
(Elson Marques Jr.)
sexta-feira, 8 de março de 2013
Aquela mulher
Estou republicando uma poesia que escrevi em um outro 8 de março. É difícil falar das mulheres sem nos entregarmos de bandeja...
Sempre gostei desse teu cheiro
O modo como toca os cabelos
Quando fala, olha, fica calada
Quando sorri...
a
Conheço cada detalhe seu
Cada marca na sua pele
Cada curva da sua boca
O som da sua respiração
a
Conheço cada pétala dessa flor
Teu jeito raso, prático
Às vezes profundo, contuso
Fácil prever o improviso
E difícil entender o motivo
O que posso fazer é isso
Admirar, completar, apoiar
Deixá-la fluir, derramar-se
Ocupar seus espaços
Segue teu caminho sempre
Parando onde é a bendita
Se adaptando e reconstruindo
Sempre renovada
Levando o título de Mulher
Que já foi amada
Talvez injustiçada,
Talvez não entendesse nada
E, assim chamada,
Carregará muitos significados,
Mudará com as estações,
Outros dias virão,
Outro dia será,
Cada dia novo,
Nova mulher,
A de ontem morreu,
A de amanhã,
Quem sabe o que será...
a
(Elson Marques Jr.)
Apenas cansado demais
Ele
chegou muito cansado do trabalho. Há tempos não sabia o que era um dia de
folga. No celular, inúmeras mensagens e emails pendentes. Quando ligou a TV,
apenas para expulsar o silêncio do quarto ao passo que se esticava sob o
chuveiro, noticiava-se uma mensagem sobre o Dia da Mulher.
Aquilo
foi quase um soco no estômago. A saudade esquecida, ou ignorada, veio como um
refluxo acompanhado de náuseas. A desorientação, o tremor e a palpitação
instalaram-se subitamente. "Mas que droga", pensou. Ele só queria
seguir em frente. Saiu do chuveiro e foi até a cozinha, apenas de toalha e meio
molhado ainda. Na geladeira, meia garrafa de vinho branco acenava da porta. Já
no primeiro gole lembrou uma frase do último livro que lera: "estou
tentando ser gentil em vez de ter razão." E decidiu enviar uma mensagem
para a ex-mulher.
"Apesar de achar melhor não
falar mais contigo, pois está sendo muito difícil te esquecer, não acho gentil
me omitir na data de hoje. Você foi a mulher mais importante na minha vida nos
últimos anos. Me fez sorrir, me fez chorar. Me deu momentos fantásticos, me deu
momentos difíceis. Esteve ao meu lado alguns tempos, desapareceu em outros.
Tomou decisões que eu nunca acreditei que seria capaz e não tomou decisão
alguma quando eu achava que deveria pronunciar-se. Foi uma contradição difícil
de entender. Mas foi a minha mulher nos últimos anos. Racionalmente decidi que
deveria me afastar. A lógica é a perdição do homem, disse Exupéry (o cara que
escreveu O Pequeno Príncipe). Talvez ele esteja certo. Mas a ausência dela
também é uma perdição. Eu não pedi demais... não pedi demais...
Enfim, me perdi do objetivo da
mensagem.
Você foi importante para mim,
pois o tempo que eu dediquei à ti a fez única para mim. Você passou a ser outra
pessoa para os meus olhos quando te escolhi. E a pessoa que eu idealizei era
uma grande mulher. Feliz dia da mulher. Aproveite a data para refletir se você
tornou-se a mulher que queria ser. Tente sempre ser uma pessoa melhor, em todos
os aspectos. Adeus meu amor, minha amiga. Adeus minha flor."
Assim
que terminou de digitar, pôs o aparelho celular sobre a mesa e tomou um bom
gole da taça. Girou o vinho com movimentos perfeitos por mais alguns segundos e
tomou outro gole. Quando decidiu enviar o texto chegou um torpedo.
"Eu
queria te pedir desculpas. Por muitas coisas. Saiba que desejo que você seja
muito feliz."
Ele leu e não esboçou qualquer
reação imediata. Com muita calma, deletou a mensagem que havia escrito e foi
deitar-se, havia sido um dia muito longo.
(Elson Marques Jr.)
(Elson Marques Jr.)
sábado, 23 de fevereiro de 2013
E o carnaval...
"Se o amor é fantasia, eu me encontro ultimamente em pleno carnaval." (Vinícius de Moraes)
Passou o carnaval. A fantasia que desfilou foi dobrada e guardada. Não para ser usada no próximo. Mas porque não se deve jogar fora. As lantejoulas usadas, tiveram sua utilidade. O confete, que foi lançado, que decorou o ar, esse sim não existe mais. Quarta-feira de cinzas não poderia ter um nome mais apropriado. O fogo foi apagado. Mas a cinza vigia o palhaço tirando o nariz e lavando o rosto maquiado.
E no mundo pós-folia ouve-se "de volta a realidade". Mas a embriaguez não precisa de feriado nacional para ser praticada. Um sonho não precisa de uma multidão para ser sonhado. Precisa do sonhador e do sonho a ser alcançado. Ilusões podem se renovar sem marchinha ou banda de rua. Assim como o amor pode bater na sua porta travestido de mensagem no auge da ressaca de um carnaval.
Tenha sido ele alto, curtido de uma poltrona, recheado de amnésias ou assombrado por foliões adoradores do mistério de viver de conquistas. O dito mundo real não deixa de existir na festa da carne. Nem reaparece nos tempos de luta. Há quem viva em festa. Há quem festeje em vida, dia após dia. E o amor pode bater na sua porta travestido de mensagem no meio de uma festa de formatura, ou em um domingo de trabalho. E nada te impede de escolher uma nova fantasia. Nada te impede de vesti-la na segunda, depois de um domingo de trabalho.
Façamos carnavais fora de época de tempos em tempos. Em época de luta. Em época de cura. A qualquer tempo, de qualquer jeito. Seu par de festa pode surgir hoje. O arlequim não morre na quarta. A colombina pode estar a espera em qualquer lugar. O pierrô e a pierrete podem se entregar à devaneios e noites de amor sob a lua no meio do outono. E o amor, sim, o amor, pode bater na sua porta travestido de mensagem no auge da ressaca de carnaval.
Pierrot, 1918 (Pablo Picasso)
Passou mais um carnaval
A fantasia que desfilou foi guardada
Não para ser novamente usada
Para vez ou outra ser lembrada
a
As lantejoulas foram vistas e usadas
O confete lançado decorou o ar
Mas esse sim, já não existe mais
Quarta de cinzas, nome apropriado
a
Depois do fogo ser apagado
A cinza vigia o palhaço se desfazer
tirar o nariz, lavar o rosto maquiado
Ouve-se "de volta a realidade"
a
Embriaguez não precisa de feriado
Um sonho não precisa de multidãoSó do sonhador e do sonho desejado
Um desejo sincero de bom coração
a
Ilusões são renovadas, recriadas
Sem marchinha ou banda de rua
Assim como o amor pode aparecer
No auge da ressaca de um carnaval
a
Tenha sido ele alto, visto da poltrona
Recheado de vazio e amnésias
Ou assombrado por foliões
Adoradores do mistério da conquistaa
O real não deixa de existir na festa
Nem reaparece nos tempos de lutaHá quem viva sempre em festa
Há quem festeje em vida sempre
a
E o amor pode bater na sua porta
Travestido de mensagemNo meio de uma festa de formatura
Ou em um domingo de trabalho
a
E podes escolher nova fantasia
Com novos adereços e sonhos
Podes vesti-la na segunda
Depois de um domingo de trabalho
a
Façamos carnavais fora de época
Em época de lutaEm época de cura
A qualquer tempo, de qualquer jeito
a
Seu par de festa pode surgir hoje
Mesmo sem noite de baile
O arlequim não morre na quarta
A colombina pode estar a espera
a
O pierrô e a pierrete se entregam
À devaneios e noites de amor
Sob a lua no meio do outono
Ou frente as flores de primavera
a
E o amor, sim, o amor, pode bater na sua porta
Travestido de mensagemNo auge da ressaca de carnaval
a
a
(Elson Marques Jr.)
domingo, 3 de fevereiro de 2013
Alguma coisa
Eu pensei que fosse te ver
Ontem, no restaurante, ou no bar
Pensei que fosse te encontrar
No hospital, ou parado no sinal
Mês passado te procurei
Fazendo barulho, encenações
Na última semana esperei
Quieto, em silêncio, silenciado...
Tentei achá-la no meio do porre
Bêbado, em meio à fumaça
E quando acordei busquei-a
De ressaca, exausto, sem rumo
Vou atrás de ti no trabalho
No mercado, na feira, perdido
Na praça faço vigília, atento
Não tomo tento, e ainda acredito
Quase consigo te ver em uma
Ou outra canção, mas nunca vejo
Nunca vejo... Teu rosto não me vem
És um retrato antigo, borrado
Por que não aparece de vez
Me traz o teu cheiro
Mostra tua cor, teus cabelos
Mostra tuas curvas, teu beijo
Me pergunto se te conheço
Se és real, se tu existes
Se é só palpite, sonho infantil
Será que sonha, que espera?
Há alguma coisa estúpida
Nisso de esperar, preparar tudo
Perseverar, paciente, perseverar
Imaginar, como seria, como será
Sair querendo te encontrar
Correr para te alcançar
Dormir para sonhar
Sonhar para viver
Viver para te beijar
E acreditar que
Quando chegar
Quando aparecer
Vou te reconhecer
E deixar essa estupidez
De procurar, procurar e procurar
(Elson Marques Jr.)
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